Refletindo e iluminando palavras e sentimentos.

segunda-feira, 14 de março de 2011

SINTOmático / Afago na poesia

"A poesia reveste a alma...Num impulso instante...Aquece e acalma."
®IatamyraRocha
Poetas de hoje :
Elisa lucinda
O poema do semelhante

O Deus da parecença
que nos costura em igualdade
que no papel-carboniza
em sentimento
que nos pluraliza
que nos banaliza
por baixo e por dentro,
foi esse Deus que deu
destino aos meus versos.


Foi ele que arrancou dele
a roupa de individuo
e deu-lhes outra de individuo
ainda maior, embora mais justa.

Me assusta e acalma
ser portadora de várias almas
de um só som comum eco
ser reberberante
espelho, semelhante
ser a boca
ser a dona da palavra sem dono
de tanto dono que tem.


Esse Deus sabe que alguem é apenas
o singular da palavra multidão
eh mundão 
todo mundo beija
todo mundo almeja
todo mundo deseja
toda mundo chora
alguns por dentro
alguns por fora
alguém sempre chega
alguém sempre demora.


O Deus que cuida do
Não-desperdicio dos poetas
deu-me essa festa
de similititude
bateu-me no peito do meu amigo
escostou-me a ele
em atitudes de verso beijo e umbigo,
extirpou de mim o exclusivo :
a solidão da bravura
a solidão do medo
a solidão da usura
a solidão sa coragem
a solidão da bobagem
a solidão da virtude
a solidão da viagem
a solidão do erro
a solidão do sexo
a solidão do zelo
a solidão do nexo.


O Deus soprador de carmas
deu de eu ser parecida
Aparecida
santa
puta
criança
deu de me fazer
diferente
pra que eu provasse
da alegria
de ser igual a toda gente.


Esse Deus deu coletivo
ao meu particular
sem eu nem reclamar
foi ele, o Deus da par-essência
o Deus da essência par.


Não fosse a inteligência
da semelhança
seria só o meu amor
seria só a minha dor
bobinha e sem bonança
seria sozinha minha esperança.
[Madrugada onde fui acordada pelo poema no Rio de janeiro, 10 de juho de 1994]
Poema tirado daqui 

Ferreira Gullar
Traduzir-se
Uma parte de mim
é todo mundo:
outra parte é ninguém:
fundo sem fundo.

Uma parte de mim
é multidão:
outra parte estranheza
e solidão.

Uma parte de mim
pesa, pondera:
outra parte
delira.

Uma parte de mim
almoça e janta:
outra parte se espanta.
Uma parte de mim
é só vertigem:
outra parte
é linguagem.

Traduzir uma parte
na outra parte
-que é uma questão
de vida ou morte-
será arte ?

Sintomático

O desejo me pluraliza
Veste-me de medos
A inspiração me paralisa
Recebe meus pedaços
lidos no calor das entranhas
Eclode em abraços
Despeja seu gozo, arranha
No versar dos seus laços
Me desnuda a alma
Na sua água me batiza
Banha-me com calma
E me toca em palavras precisas
Ardentemente indecentes
Com puro rimar de prazer
A poesia me rouba
Desbota, aporta
E me faz amanhecer.
®IatamyraRocha

Continua aqui 





 

 
 











  

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